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ACONTECE NO NORDESTE: O QUE UNE O MARANHÃO AO CEARÁ

Começou a circular esta semana o número 234, de setembro de 2021, da “Rivista”, publicação mensal que há mais de vinte anos se espalha pelo Brasil e o mundo em edições impressas e digitais, disponível em “site” da Internet (https://www.rivista.com.br/download).

A “Rivista”, uma das mais longevas publicações do gênero no País, foi fundada e é dirigida pelo cartunista, jornalista, escritor e artista plástico cearense Hermínio Macedo Castello Branco, o Mino, de raízes maranhenses, filho do caxiense Raimundo Castello Branco de Almeida e de Dª Francisca Macedo Castello Branco, de Teresina. Raimundo Castello Branco foi jornalista em Caxias, onde fundou e dirigiu jornais. Também foi funcionário do Banco do Brasil, onde se aposentou, em Fortaleza (CE).

Hermínio Castello Branco convidou Edmilson Sanches para escrever na “Rivista” no primeiro trimestre deste ano e, por questões editoriais e dificuldades resultantes da pandemia, somente agora o texto inédito do jornalista caxiense ganha as páginas da “Rivista” — quatro páginas, onde Sanches (re)lembra aspectos históricos, geográficos e outros que unem os dois Estados.

A seguir, o texto de Edmilson Sanches.

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Especial para a “Rivista”
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MARANHÃO E CEARÁ: O QUE NOS UNE

No tempo em que se faziam navios de madeira, o pregador jesuíta Antônio Vieira (1608—1697) proclamava que tudo era união: “Uma união de pedras é edifício; uma união de tábuas é navio […]”, dizia o grande padre, em seu “Sermão do Santíssimo Sacramento”.

Tudo é união… Partículas subatômicas em conjunto formam átomos que, unidos, 22 quintilhões deles (22 seguido de 18 zeros) fazem um grão de areia…

Átomos formam moléculas que, agrupadas, fazem células que constituem sistemas que formam corpos que somos nós.

Um país é uma União — de Estados. Um Estado é uma união — de municípios. Um município é uma união — de pessoas, pessoas com seus ideais, esforços… e limites, ditados pelo cordame, pela fieira, pelo cambo da Lei unindo a todos pela guelra ou goela, pois sem Ordem não há Progresso.

E o que une Ceará e Maranhão? Pessoas e “coisas” unem esses dois Estados, ou, ao menos, os tornaram unidos no correr do tempo e da História.

A Serra Grande ou Serra da Ibiapaba, motivo de disputa na Geografia política entre Piauí e Ceará, no século 16 esteve com o Maranhão, quando o Piauí era parte dele.

A Área de Proteção Ambiental do Delta das Américas, além do Piauí e Maranhão, inclui uma nesguinha do Ceará, com os municípios de Barroquinha e Chaval.

Até semelhantes briófitas, espécie de musgo, são iguais nos dois e em mais Estados.

Se a Fisiografia e a Botânica, no Mundo Natural, já nos une há milhões de anos, o Mundo Histórico-Cultural também nos aproxima, cruza e intercruza, com pessoas e fatos tornando-se interseção, linhas de comunhão, cadeia e traço de união, elo e ligação.

Aderson Ferro (1849—1912), considerado a “Glória da Odontologia Brasileira”, é maranhense de Caxias. Formou-se em Artes Dentárias em Paris, onde foi amigo de Guy de Maupassant (até tomaram posse na mesma noite de um dia em uma sociedade geográfica da França). O odontólogo George Barros Leal (1929-2008), cearense, é, até onde se sabe, o único autor de livro biográfico sobre o ilustre colega e nem tanto reconhecido maranhense. Aderson Ferro clinicou em Fortaleza e em outros municípios. Foi pioneiro no uso de anestesia odontológica no País. É o primeiro autor brasileiro de livro — “Higiene da Boca” — sobre Odontologia, no Brasil. Criou teatros e bibliotecas em municípios do interior cearense. Está enterrado em Baturité, terra de Franklin Távora, autor de “O Cabeleira” e que tantas brigas epistolares (man)teve contra seu conterrâneo cearense e colega escritor José de Alencar.

O maranhense (caxiense…) Antônio Gonçalves Dias (1823—1864) divide a “paternidade” do Indianismo, ou a reforça, com o cearense José de Alencar. Também, o grande Gonçalves Dias — que, em seus afazeres, rimava poesia com dramaturgia, advocacia e etnografia – foi um dos líderes da “Expedição do Ceará”, que ele enriqueceu com a propriedade de suas anotações.

O reitor dos reitores Antônio Martins Filho (1904—2002) nasceu na região do Cariri, no Crato, mas foi debutar no Maranhão, em Caxias, onde, cabra danado que nem todo cearense, ainda “de menor” fundou comércio próprio, criou escola, fez faculdade ali perto (Teresina) e fez filhos — um deles o médico e escritor José Murilo de Carvalho Martins (92 anos agora em 31 de março), que nasceu em Caxias, estudou nos Estados Unidos e foi o pioneiro da Hematologia no Ceará.

João Mendes de Almeida Júnior (1856–1923), ilustrado jurista paulista, filho de outro gigante do Direito e do Jornalismo, o caxiense João Mendes de Almeida (1831—1898), deputado e ex-presidente da Assembleia de São Paulo, principal redator da Lei do Ventre Livre. João Júnior “trocou” umas palavras com o grande romancista cearense José de Alencar (1829—1877) sobre a origem do topônimo “Ceará”, oportunidade em que o Júnior, paulista de sangue maranhense, observou que “não pegava bem” um certo “romantismo” com que Alencar estribava ou revestia suas considerações etimológicas acerca do nome do Estado natal alencarino.

Valorosos e intimoratos cearenses deram o maior apoio à maranhense Caxias, contra o esforçado e militarmente obediente português (falecido em 1856) João José da Cunha Fidié, governador das Armas do Piauí, que, atendendo a ordens, queria porque queria que algumas cidades e até províncias inteiras, como se fossem enclaves em território brasileiro, continuassem obedecendo ao reino lusitano. Não vingou. Fidié perdeu. Preso em Caxias pelos soldados maranhenses, piauienses e cearenses, foi levado de volta para Oeiras, de lá para Salvador, daí para o Rio de Janeiro, onde foi trancafiado até o bondoso Imperador Pedro 1º devolvê-lo para Lisboa. Mas essa não tinha sido a única batalha perdida de Fidié. Com a participação novamente de cearenses, maranhenses e piauienses, ele, que em um primeiro momento ganhara a Batalha de Jenipapo (13 de março de 1823, em Campo Maior – PI), foi pego de surpresa pelas táticas dos guerreiros sertanejos, os quais se apoderaram de armas, munição, valores e outros haveres de Fidié, que, desprovido de quase tudo, teve de retirar-se do Piauí.

Tristão de Alencar Araripe (1821—1928), ilustre jurista, político e escritor cearense, de Icó, em sua vasta obra literária, histórica e jurídica, brindou o Maranhão com pelo menos duas, ambas de 1885: “Expedição do Ceará em Auxílio do Piauí e Maranhão” e “Independência do Maranhão”, esta lida em sessão no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (Rio de Janeiro).

Ontem e hoje, antanho e agora, Maranhão e Ceará, territórios e povos, continuam se interconectando. A famigerada seca tem sido há séculos motivo de forçadas aproximações, em que destemidos cearenses destinam-se às receptivas terras maranhenses. João do Vale, maranhense, cantou isso em música: “Alô, Coroatá, os cearenses acabam de chegar”. Ciro Gomes, advogado e político cearense, me disse a mim, maranhense, ali no restaurante Carpe Diem, em Brasília, quando voltou de Harvard e se organizava para lançar dois de seus livros: “O Maranhão é o Paraná do Nordeste. Lembro-me, na casa de meus pais, em Sobral, dos muitos conterrâneos que iam até lá despedir-se de meu pai, dizendo que estavam de mudança para o Maranhão. Desde criança o nome do Maranhão ficou em minha cabeça e eu passei a estudar sobre a terra que tão bem recebia meus irmãos”.

Falei em João do Vale, que cantou o cearense. Tem um cearense que (en)cantou o Maranhão: o músico e artista plástico Edmar Gonçalves, amigo meu, cuja primeira música de seu disco “Aprendiz” é em ritmo de boi: trata-se da lindíssima “Boi Magia”, que em 1992 venceu o 7º Festival de Música de Camocim, terra de José Dias Macedo. O maranhense Gildomar Nepomuceno, craque em Matemática e em letra e música, há duas décadas, maioridade absoluta, está em Fortaleza e desta se espalha, como polvo e povo, para outros pontos do Ceará, do Maranhão, do Brasil… O caxiense Ademir Costa, aposentado do Banco do Nordeste, mestre em Jornalismo, ativista ambiental (agora, com sua mulher, Luísa Vaz, comanda o Movimento Proparque, em Fortaleza), por muitos anos foi competente editor da referenciada publicação “REN – Revista Econômica do Nordeste”, que leva para o Brasil e o mundo conteúdos de primeira sobre a realidade produtiva de nossa região. (Tive publicados alguns textos nessa exemplar revista). Há, entre tantas coisas que há, um grupo só de maranhenses de Caxias, o “CaxCE”, unidos e reunidos em Fortaleza, onde são craques em se juntarem para saudar a alegria do bom convívio e da conterraneidade.

E, é claro, há uma família maranhense, com raízes também caxienses, que até hoje, com elã, ela e anela Maranhão e Ceará: Castelo Branco. Com um ou dois “ll”, a família Castelo Branco tem gerado talentos de vulto para o Maranhão, o Piauí, o Ceará, o Nordeste e o Brasil.

É um desses do clã Castelo Branco, “filial” do Ceará, que me convida para ocupar espaço na “Rivista” — “Sem limite de páginas”, disse ele, em longa conversa. “Ele” é Hermínio Macedo Castelo Branco, o Mino, que o “Portal da História do Ceará” carinhosamente chama-o de “Mimo” (por evidente “lapsus calami”) e o qualifica com tudo a que Mino tem direito: “retratista, cartunista, chargista, caricaturista, pintor, ilustrador, jornalista, poeta”.

De que forma raízes caxienses, maranhenses, enroscam-se na história do grande Mino? Ele é filho do bancário, escritor, jornalista Raimundo Castello Branco de Almeida e de Dª Francisca Macedo Castello Branco. Raimundo era maranhense de Caxias, onde nasceu no bairro da Tresidela, em 14 de fevereiro de 1899. Era filho do comerciante Benedito Lucas de Almeida, nascido em Caxias, e de Dª Maria Leonor Castelo Branco, da tradicional família Castelo Branco, nascida em Teresina, em 1874 (falecida em 1922).

Raimundo Castelo Branco de Almeida era homem de grande inteligência. Foi bancário, jornalista, escritor (romancista, poeta, cronista, articulista, crítico literário) e fundou diversos jornais, inclusive o primeiro de circulação diária da “Princesa do Sertão Maranhense”, não sem razão chamado “Diário de Caxias”, de 1924. Também criou e dirigiu os jornais “Nossa Terra” e “O Sabiá”. (Aqui, pausa para uma coincidência: tal qual Raimundo Castelo Branco de Almeida, trabalhei no Banco do Brasil, de 1974 a 1977, e dirigi um jornal chamado também “O Sabiá”, este da Associação Atlética Banco do Brasil, a AABB, de Caxias, da qual fui diretor… igual ao Seu Raimundo, que, em Fortaleza, dirigiu a AABB e foi o responsável pela construção da sede da entidade no bairro Meireles, na capital alencarina).

Raimundo Castello Branco Almeida deixou diversas obras: “Zeros” (poesia); “Gosto Amargo” (1932); “Madá” (romance); “Revolução” (sobre a passagem da Coluna Prestes no Maranhão); “Ricardo Leão Sabino, O Herói Esquecido”; “Lama e Sangue” (1987; edição “post-mortem”). Ainda inéditos, tem os livros “Flor Agreste”, “Instantâneos de Minha Vida” e a obra “À Sombra das Tamareiras – Memórias de João Ninguém”. (Outra coincidência: Ricardo Leão Sabino, sobre quem Castelo Branco de Almeida escreveu, é o patrono de minha cadeira no Instituto Histórico e Geográfico de Caxias; é o nome a quem saúdo em discurso e livro meu intitulado “Do Incontido Orgulho de Ser Caxiense”. Ricardo Leão Sabino (1814—1902) nasceu em São Luís, morou em Caxias, lutou ao lado do Duque de Caxias na Balaiada e em outras guerras. Foi professor do menino Gonçalves Dias, sendo um dos responsáveis por fazer levar o futuro poeta para estudar em Lisboa, tal era o talento que o professor reconhecia no aluno).

No ofício bancário, podemos ser designados para trabalhar em qualquer lugar do País onde tiver agência da Instituição Financeira. Como dizia meu avô: “Quem aluga o fundo, não tem direito de sentar”… Assim, Raimundo Castello Branco de Almeida deu com os costados em algumas outras cidades, entre as quais Fortaleza, onde lhe nasceu Hermínio Macedo Castelo Branco, um dos oito filhos, maranhenses e cearenses.
O nome do Mino, Hermínio, é certamente uma homenagem ao seu trisavô, avô de seu pai, Hermínio Castelo Branco, nome de respeito na história das Letras e nas letras da História: poeta conhecido e reconhecido, um dos maiores do Nordeste, patrono da Cadeira nº 2 na Academia Piauiense de Letras, autor de “Lira Sertaneja”, lançada em 1881 com o título “Ecos do Coração”, uma das obras mais reeditadas na Literatura piauiense, nordestina e brasileira, com mais de dez edições. Cabra da peste, destemido, o Hermínio piauiense mal atingiu a maioridade (18 anos) e, por vontade própria, já se bandeirou pro rumo das Armas, alistando-se no Exército Brasileiro em janeiro de 1869, tacando-se País adentro na defesa da Pátria, na Guerra do Paraguai, para onde já tinha ido seu querido tio, Theodoro Castello Branco, também poeta. Militar, Hermínio, o ascendente, esteve no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Amazonas e voltou para o Piauí, onde se casou com Clarinda Benvinda de Castelo Branco.

Em resumo, é desse caldeirão de criativos talentos, de sadio civismo, de lutas com palavras e com armas que nasce o Hermínio, o Mino, que, em um laivo de loucura, convida para perto dele, ou de sua “Rivista”, alguém que, à maneira do drummondiano J. Pinto Fernandes, não tinha entrado na história, e que, lembrando Belchior, é apenas um rapaz latino-americano, vindo do interior e igualmente sem parente importante nem dinheiro no banco — mas trabalhou em um, inclusive em Fortaleza, Brasília…

Sou de Caxias, Maranhão. Cidade e Estado que novamente se unem a Fortaleza e ao Ceará, por intermédio desta “Rivista”.

Maranhão e Ceará agora também aqui, com Sanches, da cidade gonçalvina, e Mino, da capital alencarina.

Até mais ver. Ou ler.

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EDMILSON SANCHES
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Administração – Comunicação – Desenvolvimento – História – Literatura // PALESTRAS, CURSOS, CONSULTORIA

Categoria: Notícias