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CAXIAS EM DETALHES: Quantos lados tem uma Guerra?

Assim como as moedas, guerras têm mais de um lado… Ou não?

 

Por: EDMILSON SANCHES

 

Na segunda-feira, 13/04/2020, escrevi texto (“Quando o Que é Bom Não Presta”*) onde, entre outras coisas, comentei e indaguei das razões de o “site” do Ministério da Saúde brasileiro, específico sobre a pandemia do coronavírus e sua doença a covid-19, não trazer informações sobre a quantidade de altas, de recuperações, de curas ocorridas nos hospitais e estabelecimentos semelhantes. Perguntava eu, no texto, por que o “site” (https://covid.saude.gov.br/) só traz informações, digamos, “negativas”, que são a quantidade de casos confirmados de covid-19 e das mortes provocadas ou associadas a esta doença.

Eu disse no texto do dia 13 de abril que havia feito contato telefônico com o Ministério da Saúde e, em uma conversa de quase quarenta minutos, fui informado, entre outras coisas, de que realmente o Ministério não disponibilizava essa informação. Claro, fiz outras perguntas e sugestões, todas constantes no texto.

Além da conversa com o Ministério da Saúde, enviei mensagem para os endereços eletrônicos (“e-mails”) para quatorze Órgãos do Ministério e da Presidência da República (Palácio do Planalto). Assessorias de Imprensa/Comunicação, controladorias, ouvidorias, corregedorias, assessorias diversas e chefias de gabinete… esses e outros Órgãos devem ter recebido minha mensagem com perguntas, sugestões e reflexões. Quase 48 horas depois, não recebi qualquer resposta, pois, claro, essa é a burocracia pública brasileira: pródiga em disponibilizar canais de atendimento e miserável em atender às demandas que ela própria estimula…

Apesar do sonoro silêncio do Governo Federal às humildes demandas deste cidadão-contribuinte (que é considerado “patrão” e mantenedor da portentosa e cara estrutura do Serviço Público nos três níveis — federal, estadual e municipal), apesar dessa ativa omissão do Governo em relação ao que lhe perguntei e sugeri, tomei como pequena “vitória” o fato de, pela primeira vez, eu ter visto que o assunto principal de minhas solicitações/sugestões terem sido alvo do registro da Imprensa, 24 horas depois de eu tê-las apresentadas por escrito.

O primeiro registro de que fui testemunha ocular e auricular veio por intermédio de um jovem jornalista, que fez a pergunta sobre quando o Ministério informaria a quantidade de altas/recuperações das pessoas com coronavírus internadas. A pergunta do profissional da Imprensa foi feita no momento das perguntas, no encontro diário realizado pelo e no Palácio do Planalto, sob a coordenação do ministro Braga Netto, na segunda-feira, 13.

Pouco tempo depois, o portal UOL (no “link” https://noticias.uol.com.br/…/apos-desfalcar-coletiva-mande…) já trazia matéria sobre a coletiva e, no 11º dos 18 parágrafos, trazia o segundo e seguinte registro: “A pasta [o Ministério da saúde] do governo não informa números de pacientes curados da covid-19”. Esta frase (sem as aspas), até às 22h de 14/04/2020, aparecia em 23 endereços eletrônicos, quase todos reproduzindo texto do portal UOL, conforme pesquisa no serviço de busca Google.

Retorno a esse assunto para manifestar minha incredulidade ou ingenuidade por não saber por que cargas d’água o Ministério da Saúde não informa, não coloca à disposição, no seu “site” “Coronavírus / Brasil”, as informações “positivas” relacionadas à luta contra o coronavírus e sua filha, a doença covid-19. Por que o Ministério da Saúde só coloca números referentes a “casos confirmados” e “óbitos”? Na verdade, nem quero saber das razões ministeriais e misteriosas. Como jornalista, cidadão, brasileiro apaixonado por seu País e sua Gente 9de que sou parte minúscula), eu exijo, eu espero, eu peço que essa estrutura que eu ajudo a pagar, o Ministério da Saúde, disponibilize essa e outras informações.

Eu quero ver, ao lado dos óbitos e casos confirmados, a quantidade de altas, de curas, de recuperações. Que m… de “guerra” (como classifica o Ministério) é essa onde eu não sei a quantidade de “baixas” do “lado” de lá? E o Ministério tem esse número e até o registraria em algum dos muitos “slides” exibidos nas apresentações técnicas diárias feitas por secretários ministeriais. Mas a quantidade de altas/recuperações simplesmente é omitida no “site” exclusivo de informações sobre o coronavírus.

Na tarde da terça-feira, 14/04, o ministro da Saúde, ao responder à pergunta sobre a não disponibilização da quantidade de altas/recuperações, foi levemente interrompido por seu secretário-executivo, que lhe estava trazendo uma papeleta com o número de altas/recuperações. O ministro chegou até a dizer a quantidade arredondada de casos de cura: QUATORZE MIL (compare com o total de óbitos informados: 1.532). Depois eu peguei os números informados, posição oficial do Ministério na tarde de 14 de abril de 2020:

-> 25.262 casos comprovados / confirmados
-> 1.532 óbitos
-> 9.704 internações
-> 14.026 recuperações

Estranhamente, antes de falar o total exato de recuperações, o próprio ministro desviou sua fala e, fazendo pouco do total de altas/recuperações, emendou, em sua linguagem que abriga floreios, florilégios e analogias, que havia outras recuperações, como aquelas das pessoas que, confinadas em casa — continuou o ministro –, estão assintomáticas ou nem sabem que estão com o vírus, manifestam uma coriza leve aqui, uma febrezinha acolá, tomam paracetamol e/ou outro medicamento e curam-se.

O raciocínio do ministro é trôpego. Da mesma forma que há recuperações ou saídas desses casos “leves” e que não entram (por impossível) nas estatísticas oficiais, há óbitos que sequer foram registrados ou que foram registrados com outra “causa mortis”. Se em ambos os casos não são perfeitos os números, por que só “the dark side of the moon”, por que só o lado escuro da lua aparece com atualizações diárias no “site” oficial ministerial? Por quê? Não importam as razões: O Ministério da Saúde está devendo essa informação e outras no “site”.

Afinal, o que o Ministério da Saúde tem contra o resultado — expresso em números — do esforço dos “meus técnicos em Enfermagem”, dos “meus enfermeiros”, dos “meus médicos”, como o ministro possessivamente se referiu aos profissionais de Saúde, o que inclui os da rede particular, que ele também não deveria chamar de “seus”?

Para mim — e não importa que eu seja único –, para mim não há lógica no fato de o Ministério da Saúde divulgar diariamente só “casos confirmados” e “óbitos”, que são o “lado negativo” da luta. Não se luta só. A luta tem pelo menos dois lados… Cadê “o outro lado”? As informações “positivas”? Onde está a quantidade diária de altas/curas/recuperações, os sobreviventes da covid-19? Onde está a informação de exclusão, do total diário de casos confirmados, dos casos que se tornaram óbitos?

Enfim, repito os questionamentos que fiz no texto de 13/04 e os quais também enviei em mensagem por “e-mail” ao Ministério da Saúde e à Presidência da República:

1) A quantidade de CASOS CONFIRMADOS é cumulativa? O número de pacientes que tiveram ÓBITO está incluído nessa quantidade ou o número de óbitos é excluído / retirado da quantidade de casos confirmados?

2) Por que o Ministério e a Imprensa não informam com destaque a quantidade de RECUPERAÇÕES (altas hospitalares em UTI / enfermaria e isolamentos domiciliares)? Em qual página do “site” do Ministério da Saúde encontram-se esses números diários?

3) Onde se localizam as informações sobre a distribuição dos casos confirmados (em UTI, em enfermaria, em isolamento residencial etc.)?

4) Onde estão as informações sobre quantidade e distribuição de casos suspeitos, em análise, em espera e descartados?

Há muito tempo que se define o ser humano como um animal que faz perguntas.

Está na hora de alguém — outro ser humano — começar a dar as respostas…

As guerras, como as moedas, têm mais de um lado…

EDMILSON SANCHES
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Categoria: Notícias