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HÉLIO DE SOUZA QUEIROZ 03/06/1938 — 21/09/2023

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Ilustrações: Hélio Queiroz em dois momentos. A logomarca e uma das Empresas do Grupo Hélio Queiroz.

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“Pois é, falaram tanto que dessa vez
A morena foi embora
Disseram que ela era a maioral
E eu é que não soube aproveitar
Endeusaram a morena tanto tanto
Que ela resolveu me abandonar

A maldade dessa gente é uma arte
Tanto fizeram que houve a separação
Mulher a gente encontra em toda parte
Só não encontra a mulher que a gente tem no coração.”

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Pois é. Desta vez, não foi a morena musa que foi embora. Agora, quem foi embora foi um dos que a cantaram, Hélio de Souza Queiroz. Partiu neste 21 de setembro de 2023. Morreu em Teresina, onde estava hospitalizado. Seu corpo foi velado no ginásio de esportes que leva o nome de outro amigo, dele e meu, o ex-governador João Castelo Ribeiro Gonçalves, no mesmo quarteirão da residência de Hélio Queiroz, no centro de Caxias.
Grande apreciador da antiga e boa música brasileira, Hélio Queiroz costumava cantar o samba “Pois é”, de 1955, do mineiro Ataulfo Alves de Sousa (1909-1969). Para momentos festivos, Hélio convidava amigos e, no quintal de casa, de bermuda e camisa manga curta aberta até o meio, acompanhado de músicos do famoso conjunto caxiense Jomar Tempo 3, soltava a voz cantando e contando a história da moça morena que ia toda noite ver e ouvir Ataulfo Alves. Na época, Ataulfo se apresentava nas casas noturnas da Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, com seu mundo de bares, “cabarets”, salões de dança e, não poderiam faltar, rodas de samba. Informado por amigos, como o cantor e compositor pernambucano Luiz Vieira, de que havia um “espetáculo” de morena diariamente na plateia aplaudindo-o, Ataulfo foi deixando a abordagem à mulher para depois — mas deve ter demorado, pois a morena desapareceu, nunca mais voltou… Aí, Ataulfo resolveu contar sua perda em samba, onde a morena e ele, pelo menos na letra da música, estão juntos para sempre.

O gosto de Hélio Queiroz pela boa música popular brasileira vinha de longe. Quando estudava o 3º Ano Primário na Escola João Lisboa, na Rua Aarão Reis, próxima do Colégio Caxiense, no centro de Caxias, Hélio e seu colega de turma e amigo Raimundinho Palhano eram frequentemente vistos cantando e fazendo o “acompanhamento” com os dedos das mãos indicador e médio tocando na barriga. Uma das músicas de que particularmente gostavam e interpretavam era o fox-trot “Neurastênico”, um grande sucesso brasileiro de 1954, gravada e regravada por conjuntos e cantores no Brasil e no exterior. “Neurastênico” foi composta pelos cariocas Betinho (Alberto Borges Barros, 1918-2000) e Nazareno Fortes de Brito, 1925-1981). Betinho foi o primeiro cantor de “rock” do Brasil e seu pai, Josué de Barros, foi quem descobriu Carmem Miranda. A letra de “Neurastênico” faz referência ao bairro carioca Jacarepaguá, onde fica a Colônia (agora Instituto Municipal) Juliano Moreira, para pacientes psiquiátricos e alcoólatras.

“NEURASTÊNICO

Mas que nervoso estou!
Sou neurastênico!
Preciso me tratar.
Senão eu vou pra Jacarepaguá.

Tão amoroso sou!
Quem já provou gostou.
Preciso me cuidar,
Senão eu vou pra Jacarepaguá.

Eu sei que elas me querem,
Mas é para casar.
E eu digo que me esperem,
Porque, depois da festa,
Tará… Tá! Tá!“

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Fui amigo de Hélio Queiroz. E de seu irmão, José Acúrcio. Mas, bem antes, tornei-me amigo de seus filhos Carlos Maurício e João Antônio, este meu contemporâneo no Colégio São José, onde fiz todo 2º Grau (Ensino Médio, hoje) e fui presidente do Grêmio Santa Joana d’Arc nos três anos do curso.

Após sair de Caxias para trabalhar pelo País, eu costumava retornar à minha cidade natal diversas vezes por ano. Quando sabia que eu estava na cidade, Hélio me convidava para conversar, geralmente no escritório dele em uma de suas empresas, um posto de gasolina no centro de Caxias. Em algumas das vezes comparecia o Arthur Almada Lima Filho, desembargador aposentado, ilustre caxiense fundador e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias. Aí a conversa ia longe… A Caxias de outrora e a cidade de agora eram os temas principais das conversas.

Hélio Queiroz já fora vice-prefeito e prefeito de Caxias. Assumiu duas vezes: em 25 de março de 1985, por falecimento do titular do cargo, completando o mandato em 1988; e em 17 de junho de 1999, em virtude cassação do prefeito anterior. Sua vice era a médica Cleide Barroso Coutinho. Durante cinco meses, de 26 de maio a 24 de outubro de 2000, por questões judiciais, ficou fora do cargo, retornando em 25 de outubro e permanecendo até o final do mandato. Em 6 de fevereiro de 1988 saudou a chegada do bispo da Diocese de Caxias, Dom Luís d’Andréa. Em 1986, criou o Grupo Teatral Sombras, formado por estudantes atores. Em 1987, sancionou lei que deu o nome de Josino Frazão à escola caxiense de música e fez a doação do terreno para o Clube das Mães. Em 1988 anunciou o início das obras de recuperação do balneário Veneza, incluindo asfaltamento de estrada.

Para além da Política, Hélio Queiroz foi um empreendedor, empresário com atuação nos diversos setores da Economia — Agropecuária, Indústria e Serviços (onde se inclui o segmento do Comércio). Seu nome está inscrito no rol dos grandes homens e famílias de negócios de Caxias das últimas décadas, entre eles Alderico Jefferson da Silva, Francisco Bezerra, Família Castro, Família Moura, Jonas Guimarães, Raimundo Nonato Saraiva de Carvalho (Nonato Babá), Santino Moreira Caldas… Hélio Queiroz foi membro do Rotary Club e da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Caxias, que presidiu. Também fundou e dirigiu a Associação Beneficente de Caxias, criada em dezembro de 1984, e a Fundação Cultural Hélio Queiroz, de janeiro de 1991.

Nascido no dia 3 de junho de 1938 e falecido no dia 21 de setembro de 2023, Hélio de Souza Queiroz tinha exatos 85 anos, 3 meses e 18 dias de vida. Era casado com Dona Rita Queiroz, com quem teve cinco filhos: Joao Antônio dos Santos Neto, Carlos Mauricio Santos Queiroz, Hélio de Sousa Queiroz Junior, Sílvia Regina Santos Queiroz, Socorro Simone Santos Queiroz. Era natural da quase bicentenária Passagem Franca, município maranhense de pouco mais de 1.300 quilômetros quadrados, 17 mil habitantes (IBGE, 2022) e R$ 169 milhões em sua economia (Produto Interno Bruto – PIB).

Sempre empreendedor e já tendo criado empresas e desenvolvido negócios em vários setores e segmentos, ele acalentava um sonho, do qual pouca gente sabia: Hélio Queiroz queria fundar uma Instituição de Ensino Superior (Faculdade, Centro Universitário, Universidade). Dividiu esse sonho comigo e autorizou-me a tratar das primeiras providências para se começar a dar passos e iniciar a longa caminhada que vai da (boa) intenção à inauguração e funcionamento dos primeiros cursos. Realizei os primeiros contatos, preparei o terreno para as primeiras decisões — mas, unilateralmente, por questões de saúde ou outras, Hélio Queiroz não continuou esse projeto tão querido por/para ele. Se tivesse levado adiante, seria, em ordem cronológica de mandato, o primeiro ex-prefeito a investir em Educação Superior (atualmente, o nome de dois ex-prefeitos, posteriores a Hélio Queiroz, vinculam-se a Instituições de Ensino de 3º Grau em Caxias, destacando-se, por meritório, o pioneirismo do médico Marcello Thadeu de Assumpção, prefeito no período 1969/1972, que bem antes de ser eleito criara a Escola e Fundação Coelho Netto, de 1º Grau (Ensino Fundamental)).

Talvez Hélio Queiroz tenha realizado muitos sonhos. Entretanto, pessoas com a saudável inquietude do empreendedorismo estão querendo fazer algo, ser algo, ter algo. Talvez ele tivesse mais a realizar, a aperfeiçoar.

Agora, essa tarefa fica para a descendência, para os herdeiros, que já há muito puseram-se à frente de vários dos negócios alicerçados pelo pai.

Agora, sem a canseira do dia a dia, resta a Hélio de Souza Queiroz, do outro lado da Vida, zelar pelo bem-estar dos Familiares e Amigos que ainda resistem neste lado de cá da Existência.

Nossas condolências para a Família, Colaboradores e Amigos, nestes dias de perda, de dor, de luto… e de saudades.

Fé e Força para todos.

Paz e Luz, Hélio.

EDMILSON SANCHES
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Categoria: Notícias