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CAXIAS EM FOCO: Caxias recebe pré-estreia de filme sobre a vida e obra de um dos maiores escultores do modernismo brasileiro

Obra “Maternidade”, na Praia do Botafogo, Rio de Janeiro (RJ)

Será lançado neste sábado, 15, em Caxias, em  pré-estreia, o filme longa-metragem sobre a vida e obra do caxiense Celso Antônio Silveira de Menezes, pintor e professor, que se tornou um dos maiores escultores do modernismo brasileiro. O documentário tem direção e produção do renomado cineasta Beto Matuck, também autor de vários trabalhos sobre personagens maranhenses. 

O filme será exibido no Multicine Caxias, no Shopping Center Caxias. Será uma sessão única, especial, com início às 10h deste sábado. Sendo que a entrada é gratuita.

Sinopse

O documentário é uma imersão na trajetória do escultor maranhense Celso Antônio de Menezes, que viveu entre 1896 e 1984 e participou intensamente do movimento modernista, juntamente com Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Manuel Bandeira, entre outros. Apesar de aclamado como um importante artista de vanguarda, sua obra é hoje refém do desconhecimento. O filme refaz o caminho do escultor, indagando o que teria provocado o seu declínio e impedido que sua obra ficasse registrado no imaginário das artes do Brasil e do mundo.

Notas sobre o artista

Celso Antônio fez sua formação na França como assistente de um dos maiores escultores do século XX, Antoine Bourdelle (1861-19219), considerado o renovador da escultura moderna e discípulo de Auguste Rodin (1840-1917).

O escultor maranhense havia chegado à França graças a uma bolsa de estudos concedida pelo governador Godofredo Viana. Lá, entre 1923 e 1926, conviveu com outros artistas brasileiros, como Anita Malfatti, Villa-Lobos, Brecheret, Rego Monteiro e Di Cavalcanti, de quem se tornaria inseparável. Mais tarde, esse grupo de artistas seria responsável por introduzir as bases da arte moderna no Brasil.

Em 1989, após a morte de Celso Antônio, diria o escritor Otto Lara Resende (1922-1992), em manifesto amplamente divulgado:

Como simples testemunha do meu tempo, considero um absurdo que até hoje, no final de 1989, um artista do valor e da importância de Celso Antônio não tenha tido ainda o reconhecimento que merece. É sabido que a morte impõe um período de silêncio, como se entre a posteridade e o morto ilustre fosse necessário fazer uma reflexão para reavaliar o que significou de fato a sua contribuição para a cultura nacional.

Quem quer que tenha interesse pelas artes e pelas letras no Brasil sabe a importância de Celso Antônio. Nem é preciso ter sido seu contemporâneo, ou ter acompanhado, mesmo à distância, o itinerário que o artista percorreu. Não lhe faltou sequer o sal da grande controvérsia, quando sua arte foi vítima da incompreensão e da burrice.

Celso Antônio, tendo vivido e trabalhado num momento de renovação cultural em todas as frentes, foi um grande artista inovador. Com um temperamento discreto, alheio ao marketing das celebridades de quinze minutos, o grande artista teve ao seu lado as melhores inteligências e sensibilidades do seu tempo. Bastaria citar grandes nomes entre os seus fervorosos admiradores: Manuel Bandeira e Carlos Drummond.

Tudo o que se fizer em favor de Celso Antônio, a partir de agora, é justo e oportuno. Chega tarde, mas ainda chega a tempo de saldar uma dívida que o Brasil tem para com esse extraordinário artista, que conheci, admirei e defendi, quando foi vítima da agressiva estupidez dos que se trancam na rotina e no ar viciado do academicismo”.

Ser um artista de vanguarda não foi fácil para Celso Antônio. Escolhido para confeccionar a peça principal da entrada do Ministério do Trabalho do governo Dutra, a escultura do Trabalhador, acabou sendo envolvido na que viria a ser a maior polêmica de sua carreira.

A partir do momento em que foi apresentada, a escultura passou a ser alvo de intenso ataque dos que a consideravam “feia”, como o próprio presidente Dutra e o jornalista Carlos Lacerda, mas também de muito apoio, dos modernistas que defendiam o escultor e sua obra. A escultura acabou sendo rejeitada e abandonada em uma garagem do ministério, onde permaneceu por duas décadas. Foi o começo de uma crise que levaria Celso Antônio ao completo isolamento.

Carlos Drummond de Andrade, no necrológio publicado no Jornal do Brasil de 31/05/1984, quando do falecimento de Celso Antônio, noticiou, após tecer longo comentário acerca da vida e obra do escultor maranhense:

“Falecido no último sábado, Celso Antônio merece ser redescoberto e analisado criticamente como uma das expressões mais fortes da escultura brasileira.”

 Para ficar em apenas três exemplos, o ex-modelo do escultor, o poeta Manuel Bandeira (1886-1968), também registrou um testemunho de peso. Em texto de 1957, em que Bandeira contava o lançamento da segunda edição do “Itinerário de Pasárgada”, ao lado de sua cabeça em bronze esculpida por Celso Antônio, ele disse:

“A atração principal da tarde, o número em que me senti ‘tel qu’en moi même enfin l’éternite me change’, foi a exposição de minha cabeça em bronze, obra-prima, de Celso Antônio. Por falar nisso, a segunda edição do ‘Itinerário’ está uma beleza, mas leva uma omissão imperdoável: não se declara, debaixo da fotografia do bronze de Celso Antônio, o nome do escultor. A culpa foi toda minha, que escrevi a legenda no verso da cópia fotográfica fornecida à tipografia. Mas obra de Celso Antônio precisa levar assinatura? Quem não reconhecerá imediatamente naquilo a mão do mestre?”

Apesar de tanta admiração e apoio, Celso Antônio é hoje refém do desconhecimento público tanto no Maranhão quanto no Brasil, sendo objeto de poucos livros e trabalhos acadêmicos[1].

A capital maranhense tem apenas uma obra pública do artista exposta: um busto de Antônio Lobo situado no Largo da Igreja de Santo Antônio, no centro de São Luís. O acervo do Museu de Artes Visuais da cidade só possui um medalhão com o rosto de Aluísio Azevedo (1857 – 1913) feito pelo escultor. Afora essas obras, existem algumas poucas peças em coleções particulares.

Beto Matuck, cineasta

A linha condutora do filme é o olhar de uma pesquisadora, que esculpe história perdida do escultor maranhense Celso Antônio de Menezes, cujo trabalho ela conhece por acidente.

A narrativa vai seguir os fatos em ordem cronológica, observando onde e em que contexto social surgiu o artista e como se desenvolveu sua carreira. Um escultor tão importante e proeminente não seguiu carreira internacional nem conseguiu fixar seu legado na memória da cultura brasileira, caindo no esquecimento. O que aconteceu?

Do escultor maranhense Celso Antônio de Menezes e de sua arte quase ninguém mais ouviu falar depois da década de 50. Nenhum órgão de imprensa noticiou sua morte, em 1984. Menos de uma dezena de pessoas acompanharam o enterro, no cemitério do Catumbi, no Rio de Janeiro.

Com Informações: http://portalsinalverde.com/

Categoria: Notícias