Registro fotográfico da audiência mostra que o encontro de Flávio Dino (d) e Felipe Camarão (e) com Ricardo Vélez (c) no Ministério da Educação foi descontraído
Ao reunir-se ontem, em Brasília, com o ministro da Educação, Ricardo Vélez, para apresentar-lhe o projeto de apoio do Governo do Estado à conclusão das creches do Governo Federal no Maranhão cujas obras encontram-se paralisadas por falta de recursos, o governador Flávio Dino (PCdoB) deu uma demonstração cabal de que, em função do interesse coletivo, no plano institucional contrários políticos e ideológicos podem conviver produtivamente. Ao tomar a iniciativa de pedir audiência ao ministro para lhe fazer uma proposta – que muitos consideram ousada -, o governador do Maranhão, que prega ideias avançadas na área educacional, abriu diálogo sobre o tema com o mais conservador membro do Governo de Jair Bolsonaro, expoente da direita esclarecida. E abriu caminho para confirmar a tese segundo a qual na agenda democrática há espaço para convivência entre Oposição e Situação, sem que ambas abram mão das suas convicções nem do direito de manifestar suas críticas.
O que chama a atenção na audiência com o ministro da Educação, é que o governador do Maranhão – que estava acompanhado do secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão -, não se apresentou com chapéu na mão pedindo uma ajudazinha pelo amor de Deus. Ao contrário, Flávio Dino procurou Ricardo Vélez com uma agenda positiva, propondo que a União retome a construção de dezenas de creches, oferecendo apoio financeiro do Estado como suporte para a conclusão dessas obras. E a partir daí outros assuntos foram tratados, claro.
Não se sabe se o ministro Ricardo Vélez vai acatar a proposta do governador Flávio Dino. Mas o fato de ter recebido o comandante do Executivo maranhense com a atenção devida a um chefe de Estado foi uma sinalização importante e decisiva. Primeiro porque o ministro – que é um filósofo respeitado, apesar da sua rejeição extremada às ideias da esquerda -, demonstrou reconhecer que as diferenças políticas e ideológicas não podem ser obstáculos a um relacionamento institucional focado da defesa dos interesses da sociedade. E depois porque, mesmo sendo um governante política e filosoficamente progressista, que professa ideias de esquerda por uma visão democrática, o governador tem clara a noção de que no plano institucional as relações devem se dar na medida do interesse público. Daí a impressão de que audiências como a de ontem deverão ser rotina para o governador do Maranhão.
A campanha eleitoral revelou com clareza solar que o presidente Jair Bolsonaro (PSL), seus ministros e seus aliados não gostam do governador Flávio Dino e que no campo político farão tudo o que estiver ao seu alcance para minar as suas forças. Revelou também que o mesmo acontece com o governador, seus secretários e aliados em relação ao presidente Jair Bolsonaro. Essa é a lógica que move as diferenças políticas, principalmente quando elas se dão pelo viés ideológico, como é o caso. Mas esse estado permanente de conflito é quebrado quando o que está em jogo é o interesse público. Flávio Dino mostrou isso na prática quando estabeleceu e manteve uma convivência institucional produtiva com o Governo do presidente Michel Temer (MDB), sem abrir mão de apontá-lo como fruto de um golpe, mas também vivendo sob ataque permanente dos aliados de Michel Temer no Maranhão.
Politicamente, o governador Flávio Dino e o presidente Jair Bolsonaro estão separados por um Saara quase intransponível, mas a aproximá-los existe uma ponte formada por milhões de maranhenses, brasileiros, que precisam de educação, saúde, segurança, infraestrutura, assistência social e incentivos diversos, que só podem ser viabilizados por ações conjuntas dos Governos do Estado e da União. Por essa lógica, o ministro da Educação deve aceitar a parceria proposta pelo governador do Maranhão.
Fonte: http://reportertempo.com.br/