Lula da Silva e Flávio Dino consolidando aliança para 2018
São Luís será palco, nas próximas 72 horas, de uma série de eventos que poderão ter influência decisiva no desenho político-partidário para a corrida eleitoral do ano que vem. Trata-se da etapa maranhense da peregrinação que o ex-presidente Lula da Silva (PT) faz pelo Nordeste, na qual terá o governador Flávio Dino (PCdoB), seu aliado declarado, como anfitrião, e o ex-presidente José Sarney (PMDB), também aliado e guru durante seu governo, agora como adversário. Dois itens da programação marcarão a visita: a recepção do ex-presidente pelo governador no Palácio dos Leões e o ato público no qual o PT espera reunir uma multidão para ouvir e aplaudir seu maior líder. Lula tem dois objetivos claros: consolidar-se como vítima do que ele chama de armação político-judicial destinada a sufocar sua trajetória e tirá-lo da vida pública, e pavimentar a estrada para disputar estrada para tentar voltar ao Palácio do Planalto se puder ser candidato. Nesse contexto, além de anfitrião, o governador Flávio Dino reafirmará sua posição de referência destacada da esquerda moderada no País e de apoiador linha de frente da (im)provável candidatura do líder petista.
Nas avaliações feitas por entusiasmados militantes petistas, de certa maneira corroboradas por analistas ligados ao Palácio dos Leões, Lula aposta alto que, se candidato, arrebanhará entre 70% e 80% dos mais de quatro milhões de votos maranhenses. Tal perspectiva se baseia no histórico do seu vitorioso desempenho eleitoral no Maranhão. E nesse contexto, nada mais natural e promissor do que uma dobradinha com o governador Flávio Dino, que caminha para consolidar a tendência de favoritismo na corrida ao voto. Mesmo os observadores mais cautelosos e nada simpáticos ao ex-presidente petista, a expectativa é que, em sendo candidato, Lula não terá menos que 50% dos votos no Maranhão, sejam quais forem seus concorrentes.
Durante sua passagem por São Luís, onde desembarcará amanhã (4) à tarde e seguirá em frente na manhã de quarta-feira (6), Lula deverá colocar pingos nos is e até mesmo ponto final nas dúvidas que ainda restam a respeito do seu relacionamento com o ex-presidente José Sarney e em relação à solidez da sua amizade política com o governador Flávio Dino. Isso porque sua aliança pessoal e política com o ex-presidente foi tão forte que em 2006, quando Lula deu as costas para seus antigos aliados no Maranhão e obrigou o PT a romper com Dino e Jackson Lago (PDT) para apoiar a candidatura de Roseana Sarney (PMDB), chegando ao ponto de, às vésperas da eleição, num discurso emocionado em Timon, pedir “pelo amor de Deus” que os maranhenses elegessem Roseana, que àquela altura já estava irreversivelmente derrotada. A aliança Lula-Sarney se manteve firme em 2010 em torno das candidaturas de Dilma Rousseff (PT) para presidente e Roseana Sarney para o Governo, tendo inviabilizado as candidaturas de Flávio Dino e Jackson Lago. Em 2014, Lula e Dilma de novo ficaram com o Grupo Sarney, desta vez apoiando o empresário e suplente de senador Lobão Filho (PMDB) contra Flávio Dino. Naquela disputa, porém, pressionado pela banda rebelada do PT, que o apoiava aberta e ostensivamente, Flávio Dino fez uma campanha pedindo votos para Dilma contra José Serra (PSDB), mesmo com a petista mantendo indiferença ao candidato pemedebista.
Os laços de Lula e do comando nacional do PT com Flávio Dino só se estreitaram na crise do impeachment, quando Dilma Rousseff foi abandonada pelo PMDB, que arrastou o Centrão para a campanha do “Fora Dilma!” tendo o Grupo Sarney na linha de frente. Dino assumiu a defesa da então presidente, entrando em choque aberto com os caciques do Congresso Nacional, acusando-os de tramar um golpe de estado contra a presidente, e até mesmo com os chefes da Operação Lava Jato, questionando decisões do juiz Sérgio Moro em relação ao ex-presidente Lula. Nos momentos mais decisivos da crise, Dino colocou em risco o seu cacife político e seu prestígio pessoal e se expôs na defesa de Dilma e Lula. A tomada de posição do governador resultou na reunificação do PT no Maranhão, que agora está inteiramente integrado à aliança partidária comandada pelo governador.
A visita de Lula servirá para colocar uma pá de cal nas dúvidas e incertezas do passado recente e consolidar definitivamente uma relação política sólida que abra um horizonte largo no grande confronto eleitoral que está a caminho.
FONTE: http://reportertempo.com.br/